Desde o início da colonização das terras do município de Tapira a produção do queijo foi fator preponderante para a geração de renda e o sustento das famílias.
Essa atividade intrinsecamente ligada ao cotidiano do tapirense sempre ganhou o Brasil através dos queijeiros de São Roque de Minas que compravam praticamente toda a produção do município.
Assim como o queijo produzido em São Roque de Minas, o produto tapirense ganhou fama como queijo Canastra e ficou apreciado e conhecido há décadas dessa forma.
No início dos anos 2000, mais especificamente em 2002, o Queijo Minas Artesanal passou por um processo de regulamentação através da Lei estadual 14.185 de 31 de janeiro de 2002 e do Decreto estadual 42.645 de 05 de junho de 2002.
Essas medidas serviam para regionalizar a produção do queijo de acordo com peculiaridades como sabor, geografia, caracterização da região e sua tradição histórica e cultural na atividade.
Tapira, encravada exatamente entre São Roque de Minas e Araxá, ficou entre aderir às regiões geográficas do Queijo Araxá ou do Queijo Canastra.
Talvez, pela facilidade de acesso através de uma rodovia pavimentada, Tapira acabou se juntando à Araxá, cidade polo mais próxima e da qual possui muita influência política e econômica.
No entanto, esse direcionamento acabou por fazer com que o queijo tapirense se juntasse a outros que são consideravelmente diferentes no tocante ao seu paladar e características climáticas, geográficas e, principalmente, culturais.
Como descrito no início da reportagem o queijo de Tapira se confunde com o de São Roque de Minas por aspectos mais do que evidentes, como a proximidade com a Serrada Canastra e sua geografia montanhosa, o clima mais ameno, a cultura de produção e o paladar mais ácido, em detrimento do queijo Araxá - mais adocicado.
Para tentar corrigir esse erro histórico a Prefeitura Municipal de Tapira está envidando esforços para que o queijo produzido nessas terras consiga mudar sua classificação geográfica para Queijo Canastra.
Para que isso ocorra o Poder Público, através da Prefeita Maura Assunção de Melo Pontes, já entrou em contato com a área relacionada à regionalização dos queijos da EMATER-MG para iniciar os trâmites, que passam pela realização de uma reunião e a elaboração de uma ATA comprovando o interesse dos produtores de queijo do município em mudar de região e um posterior estudo de diversos aspectos para atestar a aptidão de Tapira às características do Queijo Minas Artesanal Canastra.
Se o pleito for acolhido a tendência é que, além da correção do erro histórico, haja uma melhoria significativa no valor agregado dos produtos e, ainda, na capacidade de gerar renda dos produtores devido à grande fama que o Queijo Canastra construiu ao longo dos anos.
A expectativa é de que os trâmites necessários para finalizar esse processo demorem cerca de oito a dez meses.
Paulo César Jarnalo, tapirense nato, que é produtor rural, filho, neto e bisneto de produtores de queijo de Tapira, deu a sua opinião sobre a mudança da denominação geográfica do produto oriundo do município.
"Sempre vivi nesse meio e desde criança minha família basicamente se sustentou com a renda provida por esse produto. Quanto à questão da denominação regional do queijo eu acho que foi uma injustiça Tapira ter sido colocada na região do Queijo Araxá. Digo isso porque, tradicionalmente, desde que eu me entendo por gente, o queijo aqui do município, praticamente todo, sempre foi vendido para os compradores de São Roque que levavam esse queijo prá fora e vendiam como Queijo Canastra. Então, agora, que tem uma regulamentação legal eu acho que nada mais justo que o queijo daqui do município leve esse nome, Queijo Canastra, porque, na prática, ele sempre foi vendido como tal" - opinou Paulo Jarnalo.
Outro produtor de queijos de Tapira, Reginaldo de Assis Castro, proprietário do premiado Queijo Três Irmãos, relatou que ainda hoje, mesmo com o rótulo do produto apontando outra região geográfica, no destino final - muitas vezes em outros estados - o pessoal ainda intitula o queijo tapirense como Canastra.
"Na questão de mídia e divulgação vai alavancar muito, vai virar outro nível de venda. Em termos de valorização vai agregar mais valor ao produto. O nosso Queijo Três Irmãos sai daqui de Tapira, todo legalizado com nota e rótulo, e, independente de estar ou não na região geográfica Canastra, lá, o pessoal do destino final já posta no instagram que acabou de chegar queijo canastra fresquinho. A cultura já é essa" - explicou.