O topônimo, Tapira, originou-se de Tapir (Anta), palavra de origem indígena, animal outrora existente em grande quantidade na região.
Foi esse animal que inspirou desde o início a nomenclatura local, como relatado no Livro 'História de Tapira', escrito por Waldomiro Rosa de Oliveira: "Com a frequência das pessoas pela prática religiosa do terço, novos moradores começaram a aparecer pela fertilidade das terras em volta, comprovada pela beleza das lavouras existentes, iniciando, assim, o povoamento da localidade Antas (Zanta, como era chamada na linguagem vulgar da época)".
Em outra passagem, do mesmo livro, o autor conta que "o nome Antas, está documentado em escrituras de compra e venda de imóveis, onde se lê na descrição das divisas de propriedades rurais, margeando a estrada das Antas".
Tapira completa 61 anos de emancipação política nessa sexta-feira, 1º de março, mas o animal que deu nome a estas terras, a anta, ainda é muito pouco conhecido dos habitantes locais.
Nossa reportagem abordou alguns cidadãos com idade mais avançada e nenhum deles viu pessoalmente o animal nessas terras. Um deles, o senhor Antônio Assunção e Souza, de 92 anos de idade, não se recorda nem de ter ouvido relatos de como a anta desapareceu do município.
Como esse senhor nasceu no início dos anos 1930 levantamos a hipótese de que a anta tenha sido extinta no município há mais de um século.
Levando em consideração os desafios que o ICMBIO aponta como obstáculos para a sobrevivência da anta nos dias atuais, elencamos como prováveis causadores da extinção do animal em solo tapirense o desmatamento de um território virgem e que estava sendo conquistado aos poucos; a caça - atividade que sempre fez parte do cotidiano local no século passado e que ainda hoje possui vários adeptos -; e, principalmente, o seu ciclo reprodutivo longo, com 13 a 14 meses de gestação e apenas um filhote por ninhada, o que torna a anta muito vulnerável a pressões.
Talvez o ciclo reprodutivo tenha sido o mais cruel desafio da espécie. Basta compararmos o ciclo da anta com o de outra espécie, o javali, animal exótico, originário da Europa, Ásia e norte da África, e que hoje cresce vertiginosamente em população e causa enormes prejuízos ao agronegócio local.
Enquanto a anta gasta de 13 a 14 meses para gerar um único filhote, cada gestação do javali dura cerca de três meses e meio, dando origem a aproximadamente cinco filhotes que, com um ano e meio, já estarão aptos à reprodução.
Extinta há mais de um século em Tapira a anta tem ocorrência confirmada no Estado de Minas Gerais, segundo Chiarello et al. (2008), apenas em poucas Unidades de Conservação, além de raros registros externos a essas áreas.
Para se ter uma ideia clara dos desafios à sua sobrevivência é preciso considerar que existem muitas áreas com vegetação preservada no Cerrado, onde não existem antas, como por exemplo, o Parque Nacional da Serra da Canastra, tão próximo à Tapira.
Por esse motivo resolvemos "apresentar" a anta aos nossos leitores, destacando suas características, habitat, comportamento, hábitos alimentares, distribuição geográfica e desafios à sobrevivência.
Características
A anta brasileira (tapirus terrestris) é considerada o maior mamífero terrestre da América do Sul. Nos adultos a pelagem é marrom e o tamanho do animal varia entre 1,70 e 2,00 metros. Já os filhotes nascem com pelagem acinzentada coberta de manchas brancas que somem até os oito meses de idade. A característica física mais marcante é o focinho alongado, que possui uma pequena tromba móvel.
Habitat
A espécie está presente em grande variedade de habitats, com preferência para ambientes florestais associados a fontes de água permanentes. As florestas de palmeiras são consideradas um dos habitats mais importantes para as antas.
Comportamento
De hábitos solitários, o mamífero costuma andar sem companhia ou em pequenos grupos, de até três indivíduos.
Hábitos Alimentares
Necessita de grande quantidade de plantas, frutos e até cascas de árvores para sustentar seus quase 300kg. A dieta herbívora e generalista faz do animal um importante dispersor de sementes, essencial para a manutenção dos ecossistemas. É por isso que as antas são conhecidas como jardineiras das florestas.
Ao se alimentar dos frutos de uma árvore, o animal mastiga apenas a polpa e devolve as sementes quase intactas à terra pelas fezes. Devido ao grande porte, o mamífero circula até 15 quilômetros por dia, distribuindo sementes por onde passa.
Um estudo mostrou que as antas consomem 58 tipos de frutos de 23 famílias de plantas diferentes apenas na Mata Atlântica brasileira. Como sua dieta varia de acordo com a disponibilidade da região, acredita-se que o número de espécies consumidas pela anta seja muito maior.
Apesar de ser versátil quanto à alimentação, algumas plantas são mais consumidas pela anta. O jerivá, uma palmeira encontrada na Mata Atlântica, é uma das principais fontes de alimento do animal no bioma. No Cerrado, o araticum, é o seu fruto preferido. A noite é quando sai para se alimentar, após passar o dia poupando energia.
A espécie é considerada normalmente dependente de floresta (Naveda et al., 2008).
Distribuição Geográfica
A distribuição potencial de Tapirus terrestris abrange todo o Estado de Minas Gerais (Naveda et al., 2008), mas segundo Chiarello et al. (2008), no estado há ocorrência confirmada da anta em poucas Unidades de Conservação, além de raros registros externamente a essas áreas.
Risco de Extinção
Em Minas Gerais Tapirus terrestris foi categorizado como Em Perigo (EN), onde as principais ameaças a que está submetido são a destruição das áreas de vegetação nativa, caça ilegal e isolamento das populações (Chiarello et al., 2008; Copam, 2010).
Além destes, são elencados desafios como a alteração do habitat, monoculturas, fragmentação do habitat, baixa conectividade, pecuária extensiva, fogo, atropelamento em estradas, doenças infecciosas provindas de animais domésticos, densidade humana, falta de patrulhamento em áreas protegidas, número e tamanho de áreas protegidas, mineração e extração de outros recursos naturais.