Apenas 32,5% das rodovias brasileiras apresentam um estado geral considerado bom ou ótimo, e cerca de 67,5% apresentam um estado geral regular, ruim ou péssimo. Isso é o que aponta a pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), divulgada nesta quarta-feira (29).
Em função disso, o estudo aponta que o aumento do custo operacional do transporte rodoviário de cargas, em decorrência da má conservação do pavimento das rodovias, é de 32,7%. Durante o mês de julho, 20 equipes da CNT avaliaram o estado geral das vias, além da situação do pavimento, sinalização e geometria (traçado).
Foram analisados 111.502 quilômetros de rodovias pavimentadas. Desse montante, 67.659 quilômetros correspondem a malha federal, popularmente chamadas de BRs, e 43.843 quilômetros se referem aos principais trechos estaduais.
Rodovias Públicas x Concessão
Outro recorte do levantamento foi a diferença de conservação entre rodovias concedidas à iniciativa privada e aquelas que estão sob a gestão pública. Em relação aos trechos privatizados, 64,1% estão em ótimo estado ou bom, enquanto os referentes às rodovias públicas apresentam índice de 77,1% como sendo regular.
Para o diretor-executivo da CNT, Bruno Batista, a diferença nos resultados evidencia o tipo de investimento que é dado pelo poder público e pelo privado: “Enquanto as concessões estão sob o cumprimento de obrigações contratuais estabelecidas por parte dos agentes reguladores, o volume de investimentos por parte da gestão pública depende de agenda Orçamentária e de prioridades estabelecidas pelo gestor”, explicou.
Diante desses números, o presidente da CNT, Vander Costa, defendeu a privatização de malhas rodoviárias no país. “A solução é privatizar aquilo que tem atratividade econômica. E não podemos abrir mão do recurso público, até para poder ter o equilíbrio econômico social. Rodovias privatizadas são justamente aquelas que estão nos estados mais desenvolvidos, que já têm fluxo de tráfego já consolidado”.
Federais X Estaduais
A pesquisa da CNT apontou ainda que do ponto de vista público, as rodovias estaduais apresentam um nível maior de deficiência se comparadas a malha rodoviária federal. Diante disso, o estudo concluiu que em relação às BRs, 62,9% estão em estado regular, ruim ou péssimo; e em relação às rodovias estaduais, o patamar está em 74,5% de regular, ruim ou péssimo.
Pontos Críticos
Pelo segundo ano consecutivo, o estudo da CNT mostrou que os pontos críticos nas rodovias brasileiras estão acima de 2.000 casos. São considerados pontos críticos trechos com maior nível de erosões, quedas de barreira, pontes caídas e pontes estreitas.
Os números experimentaram um aumento significativo nos últimos quatro anos: em 2019, foram registrados 797 casos; em 2020, não houve levantamento disponível. A partir de 2021, os registros subiram para 1.739; no ano passado atingiram a marca de 2.610; e em 2023 o estudo identificou um total de 2.648 pontos críticos.
A nível de comparação, desde o início da série histórica, em 2011, foram contabilizados 219 pontos críticos. Em 2015, os números começaram a crescer, saltando de 327 trechos para os atuais 2.648 registrados este ano.
“Isso é o resultado que nós avaliamos de um período muito longo de baixos investimentos”, afirmou o diretor-executivo da CNT. Vander Costa complementa que o fator climático, como intensificação de chuvas nos últimos anos, também explicam o crescimento de pontos críticos nas rodovias brasileiras.
Soluções
Durante a apresentação do relatório, a Confederação Nacional do Transporte (CNT) propôs, como intervenções prioritárias: a eliminação de 2.684 pontos críticos; a reconstrução de 628 quilômetros de rodovias onde a superfície se encontra destruída; e a restauração de quase 40 mil quilômetros de rodovias onde há trincas, buracos, ondulações, remendos e afundamentos.
Além da restauração, a CNT aponta como urgente a manutenção de cerca de 62 mil quilômetros de malha rodoviária que foram avaliadas no estudo como desgastadas. Na tentativa de fazer um contraponto, o ministro dos Transportes, Renan Filho, que assumiu o comando da pasta neste ano, falou sobre investimento.
Ele pontuou que o ministério iniciou 2023 investindo cerca de R$ 500 milhões mensais na área de manutenção, e que ao longo do tempo esse valor subiu para R$ 2 bilhões. “A nível de comparação, ano passado, em manutenção, todo investimento foi de R$ 3 bilhões. Esse mês já foram R$ 2 bilhões”.
“O Brasil vinha piorando em qualidade da infraestrutura da malha rodoviária nos últimos cinco, seis anos. Isso aumenta o custo logístico do país e, como consequência, reduz a nossa competitividade internacional”, afirmou. “A gente observa uma interrupção da piora das nossas rodovias. Quero dizer que esse dado da CNT é de julho, ou seja, estamos às vésperas de dezembro”, frisou.
Renan ainda reconheceu que os dados refletem a realidade da malha viária do Brasil, e sinalizou que as metodologias de pesquisa da entidade serão adotadas também pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), entre eles o de combate aos pontos críticos.
O ministro destacou ainda que, neste ano, a pasta focou em fechar contratos de manutenção em rodovias federais, o que possibilitou a ampliação de investimentos no setor. A título de exemplo, ele mencionou que Minas Gerais, que possui a maior malha viária do país, estava com 40% das rodovias descobertas de contratos de manutenção. Com isso, ele frisou esperar que em 2024 os dados da CNT apontem uma melhora no setor.
Com Jornal O Tempo.