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Tapira Teen - A Revista Digital de Tapira
Publicado em: 29/03/2022
Nos 15 anos de morte, um pouco da história do Padre Torga
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Na madrugada do dia 29 de março de 2007, há exatos 15 anos atrás, o Padre José Torga Couto era chamado por Deus a marcar presença em sua mansão celestial.

Figura marcante durante décadas no município de Tapira, Padre Torga talvez tenha sido um dos principais personagens da história desta comuna. Sua presença ativa no contexto social e sua capacidade de interlocução com os principais atores da sociedade em que foi contemporâneo deram a ele lugar de destaque na comunidade.

Toda essa relevância motivou um trabalho de tentar historiar a sua vida, o qual está disposto na sequência:

Primeiros Anos de Vida José Torga Couto nasceu por volta das 16h do dia 28 de março de 1928, no Lar de Francisco de Salles Couto e de Maria da Conceição Torga Couto (intimamente conhecida por Dona Mariquinha), seus pais. Seu batismo ocorreu no dia 1º de maio na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar, hoje Catedral Basílica de São João Del Rei.

Aos 7 anos, em 1935, Padre Torga iniciou os estudos primários no então Grupo Escolar "Maria Tereza", sendo sua primeira professora, Dona Silvinha Braga, a quem 20 anos depois ele visitou levando sua benção de recém ordenado.

Por motivos políticos, seu pai se viu obrigado a transferir-se com a família para "Lima Duarte", onde chegou em 1936. Ali o Padre Torga concluiu o seu curso primário.

Formação Religiosa e Acadêmica

Quando tudo estava programado, junto a Dom José Justino de Santana, Bispo de Juiz de Fora, para sua entrada no seminário em agosto de 1940, seu pai veio a falecer vítima de um infarto fulminante, quando ainda tinha apenas 45 anos de idade, fato que mudou os planos do menino de 12 anos que queria se tornar padre. De comum acordo familiar, retornam a São João Del Rei, para recomeçarem a vida.

Mas Deus, que o chamara pela vocação sacerdotal, instruído pelo cooperador salesiano, seu primo Antônio Soares Rodrigues, esposo de sua prima Nair Torga Rodrigues, que já tinha no Colégio Salesiano São João dois filhos: José Justino e Antônio Francisco, encaminharam o Padre Torga, que foi recebido pelo jovem diretor salesiano Padre Francisco Gonçalves.

Em janeiro de 1941, fazendo parte da Grande Campanha das Mil Vocações, lançada por Padre Orlando Chaves, inspetor da Inspetoria Salesiana Nossa Senhora Auxiliadora, ele partiu para Lorena, no estado de São Paulo. No Ginásio São Joaquim transformado em Aspirantado, nome dado ao Seminário Menor Salesiano, iniciou seu Ginásio Salesiano em companhia de 140 alunos. Em 1944 foi transferido para Lavrinhas, modelo dos Aspirantados Salesianos no Brasil à época, terminou seu ginásio.

Em Pindamonhangaba, no Instituto Coração Eucarístico, Padre Torga faz o seu noviciado em 1945, sob a orientação do salesiano e Mestre de Noviços: Padre Luiz Garcia de Oliveira. Aceito aos votos religiosos, Padre Torga, faz sua primeira profissão religiosa no dia dedicado a Dom Bosco, dia 31 de janeiro de 1945.

O colégio São Joaquim de Lorena o recebeu em 1946, 1947 e 1948 para seus estudos clássicos de filosofia.

Em 1949, renovados seus votos, iniciou seu magistério prático "Tirocínio Salesiano".

Em 1949 e 1950 estudou no Colégio Santa Rosa, em Niterói - professor e assistente educador frequentou a Faculdade de Niterói, para a cadeira de matemática.

Em 1951 foi transferido para o Ginásio Dom Helvécio de Ponte Nova e, logo depois já em sua terra natal, São João Del Rei, em 16 de janeiro de 1952, foi aceito a Profissão Perpétua, assistido por sua mãe, irmãos e demais parentes.

Entre 1952 e 1955, na Lapa (São Paulo), realizou seus estudos teológicos no Instituto Teológico Pio XI, dos salesianos, onde em março de 1954 recebeu o subdiaconato e, em abril de 1955, o diaconato, o que lhe garantiu estar nas vésperas de atingir o sacerdócio, ideal de sua vida, meta de sua vocação.

A Ordenação e os primeiros anos como padre

Em 8 de dezembro de 1955, Festa de Nossa Senhora Imaculada, no Santuário de Nossa Senhora Auxiliadora do Bom Retiro - São Paulo, mais precisamente às 11 horas e 48 minutos, pelo então Bispo de Corumbá, seu primeiro inspetor Dom Orlando Chaves foi ordenado Padre.

Como tradição da época, em 25 de dezembro de 1955, foi recebido em São João Del Rei, onde no colégio que o recebera em 1940, já reconstruído ao lado do Santuário Dom Bosco, cantou sua primeira missa solene na presença de sua já sexagenária mãe Mariquinha, e de seus 7 irmãos, parentes e amigos.

De 1955 a 1976, pelas cartas de obediência ele passou pelos colégios São João (São João Del Rei), Instituto São Francisco de Sales (Rio de Janeiro), Colégio Dom Helvécio (Ponte Nova), Colégio Nossa Senhora das Vitórias (Esptarel) e Colégio Dom Bosco (Araxá) - onde permaneceu de 1967 a 1976, quando começou a atender Tapira.

A vinda para Tapira

Líder religioso, o Padre Torga começou o seu apostolado em Tapira no ano de 1970, quando o Padre Anacleto Girardi, que se deslocava de Araxá em algumas datas para atender a cidade, foi transferido para Goiânia, e solicitou que ele assumisse essa missão, de forma a não deixar o município desassistido.

Em 1977, o Padre Torga obteve do então Inspetor Padre Alfredo Carrara, pelo qual tinha um grande respeito pelo seu profundo conhecimento e amor à Congregação Salesiana, a licença para residir fora do Colégio Dom Bosco pelo período de um ano e residir Tapira.

Por ocasião da chegada do sacerdote para permanecer por um ano de morada em Tapira, o Sr. Geraldo Gomes de Menezes, então prefeito, e sua esposa, Dona Elza, juntamente com a população, levantaram doações para erguer a casa paroquial.

Após 1977, com a ameaça de voltar ao colégio, conforme as normas do Direito Canônico, Dom Belchior, após consulta ao Padre Torga e ao povo de Tapira, pediu à congregação que lhe fosse dada licença por mais três anos e o nomeou em 7 de março de 1977 como o primeiro pároco da recém-criada Paróquia de São Sebastião de Tapira.

Como não poderia mais ser renovada esta licença, a pedido de Dom Belchior e com a consulta que o próprio Padre Torga fez ao Reitor Mor, Dom Egídio Viganho, que se encontrava em Niterói, encerrando o primeiro Centenário dos Salesianos no Brasil 1873-1973, Padre Torga atendeu ao pedido do povo e se instalou em definitivo, licenciando-se da Congregação e se agregando ao Clero Diocesano de Luz.

A rica história escrita em Tapira

De 1977, quando começou a residir em Tapira, até 2007, quando "partiu", foram 30 anos de história junto à comunidade. Foram incontáveis missas, batizados, primeiras eucaristias, casamentos e extremas unções celebradas por aquele que ficou mais tempo a frente da igreja católica no município.

Essa proximidade em momentos de intensa alegria e extrema dor acabaram por aproximar ainda mais a pessoa do padre à figura do cidadão, do conterrâneo, do membro da família.

Se Dom Bosco teve uma clara consciência de ser chamado por Deus a uma missão especial em favor dos jovens, Padre Torga, de formação salesiana, sempre foi muito presente junto a eles. Participava sempre das reuniões dos grupos de jovens da paróquia e organizou em Tapira, no ano de 1995, o Dia Nacional da Juventude - DINAJU -, reunindo jovens de toda a forania de São Gotardo.

Além do papel religioso, Padre Torga era exímio matemático, tendo prestado seus serviços como professor a muitas gerações de tapirenses, que aprenderam a tabuada e outros conceitos da disciplina pelas suas orientações. Ele lecionou por vários anos na Escola Estadual de Tapira, que, naquela época, formava também alunos do ensino fundamental.

O reconhecimento pela participação ativa na sociedade tapirense veio através de comendas a ele oferecidas, como foi o caso do Título de Cidadão Honorário, entregue pela Câmara Municipal no ano de 1978 e o Título Diplomático de Educador, entregue pela escola em 1980.

Repercussão da Morte

A morte do Padre José Torga Couto repercutiu em toda a arquidiocese de Uberaba e também na diocese de Luz, a qual por vários ele anos honrou com seu trabalho sacerdotal.

Quatorze padres da Arquidiocese de Luz se fizeram presentes no funeral, trazendo na sua vocação a lembrança daquele que durante tanto tempo compartilhou com eles a rotina diocesana.

O Arcebispo de Uberaba, Dom Aloísio Roque Oppermann, presidiu a cerimônia fúnebre e não se cansou de exaltar os trabalhos prestados pelo Padre Torga ao povo tapirense. Falou ainda que a perda era inestimável pela sabedoria que ele acumulava e pela bondade de seu coração.

O Prefeito de Araxá à época, Sr. Antônio Leonardo Lemos Oliveira (Toninho), decretou luto oficial de três dias, compareceu à Tapira e fez questão de enfatizar que ali não estava apenas um "tapirense", mas alguém que fez parte da vida de muitos araxaenses, que deviam seu saber e sua fé, em grande parte, à atuação do Padre Torga nas fileiras do Colégio Dom Bosco de Araxá.

Em Tapira, o então Prefeito Jeremias Raimundo Venâncio também decretou luto oficial e a Prefeitura parou por três dias, as bandeiras tremularam a meio mastro e o povo se revestiu de um misto de tristeza pela perda e alegria por saber que ele saía desta terra para ascender a um lugar bem melhor: a mansão celeste.

A Secretaria de Educação relembrou os muitos anos que a inteligência e carisma do padre serviram para formar tantos tapirenses, escrevendo lindas páginas.

Em São João del Rei, sua terra natal, o sodalício da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte Carmelo enviou a seguinte mensagem:

O SODALICIO DA VENERAVEL ORDEM TERCEIRA DE NOSSA SENHORA DO MONTE CARMELO DE SÃO JOÃO DEL REI, MG, SE UNE AO POVO DE TAPIRA, MG, PELA PERDA DE SEU GRANDE PASTOR PE. JOSÉ TORGA COUTO. POR LONGOS ANOS PE. JOSÉ EM JULHO PARTICIPAVA COM FERVOR DAS SOLENIDADES DE NOSSA SENHORA DO CARMO, EM SUA TERRA NATAL, E SE UNIA A NÓS CARMELITAS, PARA FESTEJAR OS LOUVORES A VIRGEM MARIA. QUE NOSSA SENHORA DO CARMO, ACOLHA SUA ALMA COM SEU MANTO MATERNAL JUNTO A DEUS PAI. NOSSAS MAIS SINCERAS CONDOLÊNCIAS A TODO DA CIDADE DE TAPIRA, MG, POR TAO GRANDE PERDA. SODALICIO DA V.O.T.N.S.M.C MAURO DAS MERCES CASTRO - PRIOR LEONARDO DE SOUZA - VICE PRIOR

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