Carousel jquery
  • suelene1
  • javascript slideshow
  • tsuelene4
carousel jquery by WOWSlider.com v9.0
Tapira Teen - A Revista Digital de Tapira
Publicado em: 01/04/2020
Discurso de posse de Antenor Ferreira Goulart
Untitled Document

Hoje publicaremos o segundo discurso do Sr. Antônio Ribeiro de Lima (Antônio Levindo). O texto foi escrito por ocasião da posse do primeiro prefeito da historia de Tapira, citando personagens que marcaram época e que foram preponderantes para a instalação do município. Na foto acima, cedida por uma de suas netas, o Sr. Antenor Ferreira Goulart e família. Boa leitura!

Tapira, 30 de agosto de 1963.

Na posse do primeiro Prefeito.

Exmo. e Revmo. Snr. Padre José Lacerda Sobrinho, DD. Vigário da Paróquia de São Domingos do Araxá;

Exmo. e Revmo. Snr. Padre Anacleto Girardi, nosso Diretor Espiritual;

Exmo. Snr. Dr. Eurico de Andrada Pereira, Meritíssimo Juiz de Direito da Comarca de Sacramento;

Exmo. Snr. Raimundo Tibúrcio Henriques, DD. Intendente Municipal; Exmo. Snr. Dr. Antenor Ferreira Goulart, DD. Prefeito Municipal de Tapira; Exmo. Snr. Geraldo Gomes de Menezes, DD. Vice-Prefeito; Exmo. Snr. Terêncio Pereira de Rezende, DD. Presidente da Egrégia Câmara Municipal;

Exmos. Snrs. Vereadores; Exmas. Autoridades Municipais; Minhas Senhoras; Meus Senhores; Ilustres Visitantes; Prezados Professores e Mestres do ensino;

Queridas Crianças:

Minhas primeiras palavras vão à guisa de saudação e de agradecimento, ao ilustre Intendente Municipal, Snr. Raimundo Tibúrcio Henriques, que, durante o curto prazo de sua permanência nesta cidade, não se poupando a esforços e nem a sacrifícios de qualquer espécie, tudo fez no sentido de proporcionar, ao novo Município e ao Povo, os benefícios e vantagens que podia oferecer; e deixa, agora, instalada a Prefeitura, e assentadas, por assim dizer, as bases urbanísticas de nossa cidade.

E não terminou aqui a sua missão. Eis que seguirá para outra comuna, e assim continuará a sua jornada, qual destemido bandeirante do século XX, a levar os benefícios do progresso e da civilização moderna, aos mais longínquos recantos desta região privilegiada, das “minas gerais”!

Senhor Intendente: O povo de Tapira, humilde e simples, porém sincero e agradecido, há de tributar sempre, a Vossa Excelência, numa homenagem sincera, de gratidão e de reconhecimento, as honras que lhe fica a dever, por merecimento e por justiça.

E entre os benfeitores da localidade, entre os homens ilustres e vultos importantes do Município, há de figurar o seu nome, já agora incluído pelos atuais Professores em seus planos, para ser mencionado aos alunos, nas aulas de Instrução Cívica, em se tratando da história local.

Criado para viver em sociedade, o homem é social por natureza, e necessita, a cada passo, do auxílio e da cooperação dos seus semelhantes; de sorte que só um indivíduo menos esclarecido, orgulhoso ou ingrato, é capaz de se julgar independente.

É assim que, ao presenciarmos, no dia de hoje, a posse do primeiro Prefeito de Tapira, ocorre-nos à lembrança, num sentimento de gratidão e de reconhecimento, que nos comove em extremo, os nomes e as personalidades dos meus antepassados que, desde o começo do pequenino “Arraial das Antas”, contribuíram, cada qual com uma parcela dos seus esforços, para que a aldeia humilde e simples de outrora se transformasse na Tapira de hoje.

É verdade que temos ainda muito que fazer; mas o que ora presenciamos, representa muitas etapas vencidas – precisamente na fase mais difícil – e custou os esforços e os sacrifícios daqueles que doaram seus terrenos para patrimônio; daqueles que construíram as primeiras casas e edificaram as igrejas; daqueles que introduziram aqui outros melhoramentos e incentivaram o progresso e o desenvolvimento da povoação, para que lhe fossem conferidos os foros de distrito, de vila, de cidade ...

Oremos, portanto, pelos nossos benfeitores, cujos nomes nos seria impossível mencionar, e até mesmo inconveniente, pois que se o quiséssemos fazer, muitos ficariam na injustiça do esquecimento.

Todavia vos peço que me seja permitido fazer aqui menção do nome de José Maria de Rezende, um dos professores que, com mais acerto e maior eficiência, ministraram o ensino primário nesta localidade; envidou todos os esforços para que tivéssemos o Cartório, e foi o primeiro Escrivão de Paz.

Mais recentemente, é digno de menção o nome do Revmo. Padre Emilio Philippini, que, por muitos anos, desempenhou o cargo de Vigário da Paróquia de São Domingos do Araxá, atendendo, com especial carinho e incansável zelo, às necessidades espirituais do povo de Tapira, que ele tanto prezava, tendo ordenado e incentivado, com sua brilhante e sábia administração, a construção de nossa igreja principal.

Finalmente, quero mencionar ainda o nome de um conterrâneo, meu particular amigo, e amigo de todos nós: _ Coronel Egídio Ribeiro de Rezende.

Nos últimos anos de sua vida, bateu-se intensamente, pela emancipação desta Terra, que ele amou até o fim, vindo a cerrar os olhos quando, num horizonte muito próximo, já se divisavam os primeiros albores da emancipação por ele sonhada.

Tapira é, pois, o legado precioso, que nos transmitiram nossos antepassados, legado que recebemos com os corações voltados para Deus, numa prece de ação de graças e de súplicas ...

Cumpre-nos, portanto, glorificar e engrandecer nossa Terra, pela virtude e pelo trabalho, impulsionando-a para o futuro, pela nobreza e pela dedicação, que serão, para nós, qual fôrça comunicada do alto, por aqueles que nos antecederam, animando-nos a prosseguirmos na concretização da empresa por eles iniciada.

Não vos apresento parabéns, pela emancipação de nossa Terra, pois que ela representa, para nós, a mais tremenda responsabilidade.

Eu vos apresento, isto sim, em mensagem muito cordial, a cada indivíduo e a cada família, os meus votos de paz e de sossego, de prosperidade e de progresso, desejando que Deus abençoe os vossos lares e as vossas propriedades.

Felicito-vos, também, pela posse do vosso Prefeito, o qual aí está, compenetrado da sua responsabilidade, animado das melhores intenções, e com o propósito de cumprir, dentro das possibilidades orçamentárias, o que prometera nos dias da campanha, mostrando, assim, que o Prefeito não é diferente do candidato.

A posse de um governo é sempre motivo de novas esperanças para os súbditos.

Entretanto, nenhum governo, nenhum administrador poderá fazer a felicidade do povo, se não tiver a cooperação do próprio povo, cooperação esta, que há de consistir no trabalho assíduo e inteligente de cada um, de modo a garantir o bem-estar de todos; no acatamento às leis e no respeito às autoridades, tendo-se em mente que, a autoridade legitimamente constituída, vem de Deus, que é a fonte de todo poder.

"Desta maneira – diz o saudoso Pontífice João XXIII, em sua moderna Encíclica "Pacem in Terris" – fica salvaguardada também a dignidade pessoal dos cidadãos. Obediência aos poderes públicos não é sujeição de homem a homem; é sim, no seu verdadeiro significado, homenagem prestada a Deus, sábio criador de todas as coisas, o qual dispôs que as relações de convivência se adaptem à ordem por ele estabelecida. Pelo fato de prestarmos a devida reverência a Deus, não nos humilhamos, mas nos elevamos e enobrecemos, porque servir a Deus é reinar."

Durante minha permanência nesta cidade, e em seu município, onde passei quase toda a minha existência de meio século, pude verificar que os dias aqui sempre correram iguais, proporcionando paz e tranqüilidade a todos.

Isto, porque todas as famílias se entregavam ao trabalho, diariamente, e observavam, à risca, os conselhos e os exemplos de seus chefes.

Se nos dias que correm, tem havido dias desiguais, é porque muitos jovens de hoje se desvirtuaram, abandonando os costumes e os exemplos de nossos pais.

Voltem, pois, esses moços transviados, ao seu verdadeiro caminho, o caminho palmilhado por nossos pais.

É preciso que haja virtude e trabalho, para que possa haver ordem, sem a qual não há progresso, nem tranqüilidade e nem segurança.

Encontrem nossos dirigentes um clima propício, preparado pelo povo, e por uma representação condigna, na Câmara pelos senhores Vereadores, unidos num só corpo e num só ideal, em prol do bem coletivo, e do progresso do município, e teremos “uma administração inteligente, fecunda e próspera”, conforme anunciei, quando aqui estive, em dias da campanha, “a prazer de uns e a pesar de outros”, que viram, na minha simples vinda aqui, um erro e uma irreflexão da minha parte.

Quero, portanto, deixar bem claro, aqui de público, que nunca fui leviano nem irrefletido.

Minha vinda aqui, naquela oportunidade, não fôra erro nem irreflexão minha. Fôra, antes, muito bem premeditada.

Ao tomar a resolução de vir aqui, eu sabia o que fazia, e porque o fazia.

Ainda que não houvesse outros motivos, que justificassem a minha presença aqui, naqueles dias, “todo cidadão de dignidade tem direito à liberdade na manifestação e difusão do pensamento, dentro dos limites da ordem moral e do bem comum, como tem direito de participar ativamente da vida pública, e trazer assim a sua contribuição pessoal ao bem comum dos concidadãos”.

Dos rumores e das reações projetadas, no sentido de impedir minha permanência aqui, eu nem sequer tomei conhecimento, e continuo procedendo como se nada tivesse havido, porque, acima de quaisquer preconceitos, e até mesmo acima da política, eu considero a minha personalidade, a minha dignidade, a minha formação moral e espiritual; e mais que tudo isto, a amizade que sempre dediquei a todos desta Terra.

Tenho certeza de que continuarão dedicando-me a mesma amizade, aquêles que sempre me dedicaram amizade verdadeira, porque, a amizade verdadeira se sobrepõe à política. Esta, além de meramente passageira, deve ser adaptada às circunstâncias e às conveniências do momento; aquela, porém, resiste a toda prova, torna-se mais sólida com o tempo, para perpetuar-se depois no céu, onde é transformada em caridade.

Ou melhor: a amizade verdadeira, baseada na virtude e no amor de Deus, já nesta vida, pode ser equiparada à caridade. E o apóstolo São Paulo diz: “A caridade é paciente, é benigna, a caridade não é invejosa, não obra temerária, nem precipitadamente, não se ensoberbece. Não é ambiciosa, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal. Não folga com a injustiça, mas alegra-se com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”

Por tudo isto, e apesar de todos os pesares, aqui estou uma vez mais.

Aqui estou, não simplesmente para assistir à posse do Snr. Antenor Ferreira Goulart, mas para assistir à posse do primeiro Prefeito de Tapira – fosse ele quem fosse – pois, se não sou tapirense de nascimento, o sou de coração.

Aqui estou, porque, graças a Deus, me acho em pleno gozo de todos os meus direitos de cidadão.

Minha consciência não me acusa de nenhum ato que me desabone, perante qualquer pessoa, perante a sociedade ou perante Deus; e assim, posso estar aqui como em qualquer parte, sem constrangimento, sem temor e sem receio.

Aqui estou, porque não temo ameaças, partam de quem e de onde partirem.

Senhores Prefeito e Vice-Prefeito. Senhores Vereadores. Todo o povo deste município saúda e felicita hoje, a Vossas Excelências, pedindo a Deus inspire e abençoe o seu governo, para que possam levar a bom termo este mandato; e possam, no fim, ser confortados e recompensados pelo prazer de verificar uma administração realmente próspera, e pela satisfação de ver todos contentes e bem servidos.

Fica aqui o agradecimento ao Sr. Rosalvo Nogueira de Lima, que gentilmente cedeu os dois discursos publicados por seu pai Antônio Levindo. Eles resgatam uma das partes mais importantes da história de Tapira.

O início dos anos 60 foi um período primordial no nosso contexto histórico e vários personagens daquela época foram lembrados nos textos publicados, em especial o primeiro prefeito, Sr. Antenor Ferreira Goulart.

Foto de Antônio Ribeiro de Lima (escritor do discurso)

Untitled Document
Mais notícias sobre História
Untitled Document